Sete anos
Há quase sete anos, escrevi a minha última postagem aqui. Hoje, em um dia frio na minha cidade, pensei em escrever e me lembrei desse blog que há muito não abria- sequer lembrava o nome- e imaginava que poderia fazer alguns anos que o havia iniciado- mas não sete! Lembro-me de que quando o comecei, estava numa fase delicada da minha vida, adolescência, no ensino médio ainda, tendo muitas dúvidas, medos e incompreensões, ainda algumas compreensões que, hoje, penso como poderia entender as coisas assim. A gente muda, e como muda. As coisas mudam. Nos mudam.
Há quase sete anos eu não era vegetariana. Não meditava, sequer conhecia a Filosofia Budista. Tinha ideias medrosas e radicais acerca do amor. Não entendia o significado de feminismo. E o quanto o Patriarcalismo influencia nossa vida e nos subjuga. Abri minha mente e aderi a novas ideias, excluindo preconceitos e medos. Alguns medos ainda estão aqui. Mas a diferença hoje é que tento os trabalhar internamente. Com bons pensamentos, boas companhias e bons livros. Minha vida mudou muito também, descobri e resolvi coisas do meu passado que me trouxeram dor, mas muito amor também. Fiquei em paz. Precisamos de dias cinzentos para valorizar e sentir o verdadeiro prazer de um dia ensolarado, não é mesmo?
Pensei no blog, hoje, porque queria refletir sobre cercas. Também, há tempos que sinto vontade de escrever sobre assuntos aleatórios e não escrevo. Queria guardar em algum lugar que pudesse dar alguma continuidade algum dia ou simplesmente registrá-los, a fim de que não se perdessem. Tirei uma foto semana passada de uns boizinhos em um campo e cercas em volta. Cercas com arame farpado. Poucos bois, com toda certeza, não se tratava de pecuária extensiva. Mas era uma criação. Morte. Sangue. Dor. Eles pastavam, tranquilos, não sabiam o destino final, somente sentiam o sol em suas peles. O calorzinho e a liberdade da pastagem. Fiz um paralelo às nossas vidas e como não estamos preparados, também, para perder a vida. Não queremos. Morte é dor. Somente a diferença está em que eles estão sendo criados para a morte. E nós, para a vida. Quando a vida é tirada de alguém injustamente, sem ter nada feito, ou mesmo que tenha feito algo errado, consideramos injusto, por haver as formas legais e corretas de punição, que não tirar a vida. Mas as pessoas aceitam que vidas não humanas sejam retiradas, não pensam ser algo injusto, uma vez que os animais foram criados para isso, a morte seria a finalidade da vida deles. Conceitos e convenções sociais. Muito tempo também foi assim com nós mulheres, éramos criadas para ter um bom casamento, sermos, primeiro, boas esposas, boas mães, boas empregadas dentro de casa, boas cozinheiras, obedientes ao pai e, após o casamento, ao marido. Sem desejos, prazeres, objetivos, que não os do marido. A questão, aqui, trata-se muito mais de igualdade e de liberdade que qualquer outra coisa. Trata-se de demostração de poder do mais forte sobre o mais fraco. Cercas trazem um significado pesado. Me lembrei das cercas dos campos de concentração. Das cercas que protegem casas. Das cercas que defendem, trazem segurança, mas também prendem, subjugam, são testemunhas de violências. Há também as cercas das nossas mentes, muitas vezes nossos pensamentos nos prendem, fazem-nos vítimas de nós mesmos, das amarras que nós mesmos armamos. E a culpa é só nossa. Somente nossa. Sempre nossa. Pensar sobre culpa é interessante a fim de repensar atitudes e modificar ações. Todavia, eficaz mesmo é pensar sobre a responsabilidade, que condiz com o nosso presente e o nosso futuro. Momentos que podemos praticar nossa mudança de pensamento e consequente mudança de atitude, pois o caminho é no presente e, sempre, para o futuro. Sem cercas. Com liberdade e lucidez. Vamos em frente!
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